ironia, ainda que tardia

Wednesday, August 30, 2006

Nada simples

Não foi simples, eu reconheço. Mas enfim consegui voltar a escrever. E mais uma vez chego à conclusão de que será difícil eu chegar a contar com a capacidade de escrever um romance. O negócio talvez seja mesmo investir nos contos. Já havia imaginado isso quando li Cortázar pela primeira vez. E Caio Fernando Abreu serviu para confirmar essa impressão algum tempo mais tarde. Sei que isso me frustra um pouco. Não posso deixar de admitir, porém, que o simples fato de voltar a escrever já me gera um alívio muito grande.

Os dois textos tiveram motivações diferentes. “O que não tem remédio” foi inspirado um pouco na morte do Raúl Cortez, mas não posso negar que alguns detalhes fizeram mesmo parte da minha biografia. Vale lembrar que ele foi escrito em um caderninho, no longo caminho até a casa da minha mãe. Eu o definiria como uma espécie de licença poética diante de um tema que, na minha opinião, não tem poesia alguma – para falar bem a verdade.

Já “La Siesta” me deu mais uma oportunidade de exercitar o texto dentro de um determinado campo semântico, sem que isso ficasse patético, ou mesmo piegas. Na realidade, ele é cheio de uma figura de linguagem que se apropria de palavras que não fariam parte do conjunto de termos da ação em si, mas que são usadas para descrevê-la sem que se mate as entrelinhas.

Dá para perceber também que não me empolgo em escrever a narrativa tradicional, com tempo e espaço bem definidos. Filosoficamente acredito que os dois se confundam e que criar uma separação entre ambos seria deveras superficial. E como a narrativa de um romance exigiria o deslocamento das personagens em um intervalo de tempo mais extenso, talvez resida justamente aí a minha já famigerada incapacidade para tal.

O conto não exige que o deslocamento das personagens no tempo seja tão definido. Sei que o romance (dependendo do artista) também não, mas ainda não cheguei a esse estágio...

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