ironia, ainda que tardia

Monday, August 28, 2006

desgraça pouca é bobagem

As pesquisas eleitorais indicando uma provável vitória de Lula já no primeiro turno fazem com que eu me pergunte como seria um possível segundo mandato do presidente a partir de 2007. Afinal de contas, o governo acabou sendo desarticulado com os escândalos do ano passado e as coisas só começaram a voltar aos eixos com a proximidade do pleito e a liderança nas pesquisas.

Depois das inúmeras denúncias de corrupção, fica cada vez mais claro que uma reeleição com uma votação maciça, já no primeiro turno, teria a função de reiterar a legitimidade de Lula no poder, ajudando o presidente a recompor a sua governabilidade para os próximos quatro anos - apesar de todos os pesares.

Além disso, o governo passaria a contar com uma base aliada mais legítima do que aquela com a qual contou no primeiro mandato, evidentemente cooptada por intermédio da compra de partidos e parlamentares envolvidos no escândalo do mensalão. Isso, claro, pelo menos em tese, já que não se sabe como o PT vem administrando essa questão nos bastidores.

As saídas de José Dirceu e Antônio Palocci do governo fizeram com que Dilma Rousseff e Guido Mantega assumissem os ministérios da Casa Civil e da Fazenda, respectivamente, mas em ambos os casos ficou claro que o governo foi obrigado “a trocar o pneu com o carro andando”. É muito provável que os dois permaneçam em suas pastas, mas ainda é preciso saber quais seriam as possíveis caras novas em caso de uma reforma ministerial. Além de saber o mais importante: qual será a cara de um futuro segundo governo Lula.

Aliás, antes de qualquer coisa, seria bom que Lula percebesse o momento atual e que um segundo mandato aconteceria em condições diferentes daquelas em que governou até aqui. Seria importante também que colocasse em prática um entendimento com a oposição, intenção que demonstrou ter na última sexta-feira. Só assim seria possível fazer as reformas que não fez no primeiro mandato, sem a necessidade de uma Assembléia Constituinte.

O problema é que tudo isso ainda é teoria. Mas tendo em vista a baixa temperatura do processo eleitoral até aqui, tudo indica que este seria o caminho - ou pelo menos o caminho mais racional. O que não pode acontecer é a manutenção da inoperância e da falta de governabilidade em pleno início de um novo período de quatro anos. Nessas condições, só o Brasil sairia perdendo, refém do próprio resultado da vontade expressa nas urnas.

Uma possível reeleição de Lula, porém, não pode ser encarada como uma absolvição do povo em relação aos últimos escândalos. Nem vista, por outro lado, como se o povo apenas estivesse endossando os últimos avanços sociais e a condução da estabilidade econômica. O assunto merece, na verdade, um estudo mais cuidadoso, que analise de maneira sociológica as razões para que o eleitor tenha optado pela manutenção de um governo acusado de corrupção, que manchou aquela que era uma das principais bandeiras do PT: a Ética.

Um estudo que, quem sabe, respondesse qual a posição do brasileiro frente à reeleição em si, frente à realização de eleições presidenciais de quatro em quatro anos, e até mesmo em relação à duração do mandato presidencial.

SOBRE TUCANOS, LOBOS E BOLCHEVIQUES

Parafraseando Regina Duarte há quatro anos (só que do outro lado da trincheira), eu tenho medo do futuro do PSDB. A falta de consenso em torno de uma estratégia para ajudar na eleição de Alckmin à Presidência pode estar revelando mais sobre o partido do que esperavam suas principais lideranças.

Caso Lula confirme as pesquisas eleitorais e seja eleito em primeiro turno, José Serra e Aécio Neves já aparecem como os dois nomes mais fortes do tucanato para a disputa marcada para 2010. Mesmo derrotado, Alckmin também sairia ganhando, pelo menos a médio prazo, ficando mais conhecido em âmbito nacional e aumentando seu capital político para futuras eleições.

Só que antes de todas essas hipóteses, existe uma eleição a ser disputada. E abrir mão de uma vitória, mesmo que isso ainda não signifique a renúncia, é um prejuízo para a democracia. A temperatura baixa da atual corrida eleitoral não significa uma campanha disputada em alto nível, sem baixaria, mas reflete a inércia do processo político brasileiro. E o PSDB contribui para esse mal.

Antes da eleição de FHC, o PSDB parecia querer trazer algo novo ao cenário político, mas tinha entre os alicerces do partido nomes como Franco Montoro e Mário Covas. Basta, por exemplo, ter lido Notícias do Planalto, de Mário Sérgio Conti, para lembrar que foi o mesmo Covas que convenceu Fernando Henrique a não entrar para o governo Collor após a queda da República de Alagoas.

O próprio FHC poderia ter se consolidado como uma dessas lideranças, mas a cada dia parece se abster ainda mais do processo político. Com isso, vemos o principal partido de oposição ao governo agir como uma confraria de pelegos, pronto para sair da briga em prol de um “objetivo maior” e provavelmente mais certo em 2010. O problema é que, além da eleição, os tucanos darão a Lula mais quatro anos à frente da máquina, que poderá muito bem ser usada segundo critérios de uma estratégia stalinista de perpetuação no poder.

Mesmo com o pleito cada vez mais iminente, não se pode desistir da possibilidade de uma mudança no quadro. É preciso falar da corrupção do governo Lula, da falta de governabilidade após o estouro dos escândalos do mensalão e das sanguessugas. Se Alckmin acha a estratégia arriscada, por que então o PSDB não escolhe uma de suas principais figuras, conhecida nacionalmente, para o papel de metralhadora giratória? Alguém que também sirva de escudo contra o possível contra-ataque dos adversários?

Não é novidade que falta polarização à campanha. E que esse tem sido um dos motivos principais para que Lula esteja tão à frente nas pesquisas.

A oposição pode ter acertado em 2005 quando preferiu poupar o presidente Lula das denúncias de corrupção, de forma a não criar uma crise política que ameaçasse o cumprimento de seu mandato. Não se pode alijar um presidente da República de seu cargo sem que essa possibilidade parta da população. O estranho apenas é perceber a manutenção dessa estratégia, a ponto de termos uma campanha presidencial praticamente abaixo de zero, quase como se Lula tivesse um mandato de oito anos em Brasília.

IRONIA, AINDA QUE TARDIA

Parecia esquizofrênica dentro da Ferrari a torcida por Felipe Massa na disputa do GP da Turquia. Ele havia largado na pole position, manteve a primeira posição e estava fazendo uma bela corrida. Mas bastava uma ultrapassagem de Schumacher sobre Alonso para que a escuderia vermelha manchasse mais uma vez a imagem da Fórmula 1 com uma nova inversão de posições.

O momento que mais ilustra essa sensação veio quando Schumacher colocou de lado e parecia enfim passar Alonso, o que não se confirmou graças a mais uma manobra defensiva por parte do espanhol (que já vem se especializando em segurar o heptacampeão). Na cara do pai do brasileiro, em pleno box da equipe vermelha, dava para ver o alívio com a permanência de Schumacher atrás.

Enquanto isso... bem, enquanto isso ficava cada vez mais claro que Massa vinha seguindo o script da Ferrari para a chance de abrir passagem para o alemão. Logo após a última parada de Schumacher, a diferença do brasileiro em relação a Alonso chegou a 12 segundos. Massa, porém, recebeu a bandeirada quadriculada só 5s5 à frente do representante das Astúrias, 15 voltas depois.

Além disso, como se não bastassem as evidências do cronômetro, o som na transmissão da Globo não deixava a menor sombra de dúvida a respeito da diferença no número de giros do motor de Massa em relação ao número de giros do propulsor de Schumacher, louco para ganhar a prova.

Mas aí poderia chegar o advogado do diabo e dizer que o procedimento em relação a Massa teria sido absolutamente normal. Sem ser diretamente ameaçado por Alonso, o que adiantava forçar o ritmo com a corrida praticamente ganha? Traga o carro para a casa, poderia ter dito Ross Brawn, repetindo uma frase que já chegou a marcar dobradinhas fáceis da Ferrari.

O problema é que só alguém muito ingênuo duvidaria que, uma vez tendo ultrapassado Alonso, Schumacher ganharia a liderança de bandeja para diminuir de dez para seis pontos sua desvantagem em relação ao espanhol, a quatro etapas do final da temporada do Mundial de Fórmula 1 em 2006.

Em 2002, quando o papel de coadjuvante na equipe ainda cabia a Rubens Barrichello, Schumacher tinha caminho mais do que pavimentado rumo ao pentacampeonato antecipado. E o que o mundo viu foi a inversão de posições justamente sobre a linha de chegada do GP da Áustria, em Zeltweg.

O próprio Massa deixou bem claro que abriria sem problemas para Schumacher, de forma a ajudá-lo na briga contra Alonso pelo título em 2006. Até disse à equipe, via rádio, que sentia muito pelo resultado de Schumacher.

Em Istambul, o terceiro lugar ficou de ótimo tamanho para o alemão. Afinal, quem pilotou suficientemente bem para ganhar a corrida foi Massa. Já Alonso mais uma vez mostrou a maturidade que muitos veteranos não têm na hora de defender sua posição. E Schumacher abusou da sorte ao escapar na difícil Curva 8, perdendo tempo precioso em um passeio pela grama.

Outro detalhe engraçado é que a própria Ferrari acabou pecando feio na Turquia. Quando o Safety Car entrou na pista, chamou seus dois pilotos ao mesmo tempo para o pit stop. A estratégia costuma ser usada para privilegiar Schumacher, sempre o primeiro a ser atendido. Mas desta vez era Massa que estava na frente. E foi exatamente nesse momento que o alemão perdeu o segundo lugar para Alonso, além de ver adiada a chance de uma inversão.


O irônico nisso tudo é que justamente agora, que o jogo de equipe poderia ser fundamental para a conquista do octa de Schumacher, quis o destino que não houvesse possibilidade de que ele acontecesse em Istambul. E a vantagem de Alonso subiu de dez para 12 pontos na tabela de classificação.

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